Jazz em Agosto 2012, entrevista a Rui Neves (2/2)


Música de câmara improvisada, Jazz no Teatro do Bairro e o 'mundo sem capitalismo'.  A poucos dias do arranque da edição 2012 do Jazz em Agosto, abordamos alguns aspectos adicionais que completam a entrevista a Rui Neves, director artístico do festival de Jazz da Fundação Gulbenkian. 


Ainda nos novos territórios, gostava que nos apresentasse o projecto de Carlos Zíngaro e Pedro Carneiro. Ainda é de Jazz que se falará, quando ouvirmos um colectivo de “música de câmara” improvisada?
O Ensemble Nuova Camerata explora a improvisação acústica de uma maneira muito própria e onde se deteta uma certa ligação ao jazz, embora não o seja intrinsecamente. A sua organização instrumental é peculiar, cordas e madeiras que ressoam acusticamente: violino, viola, violoncelo, contrabaixo, marimba. Poucos ouviram este novo grupo que é muito recente, mas afianço que é um novo projeto com plena potencialidade para marcar pela excelência dos seus elementos e pelo equilíbrio que atingem.

NUOVA CAMERATA: Terça, 7 Ago 2012, 22:30 - Teatro do Bairro


Os concertos do JeA regressam ao Bairro Alto. Significa isso que a fórmula experimentada no ano passado resultou? Porquê esta opção? [Pessoalmente, sempre me agradou a fórmula com concertos às 18 ou mesmo às 15, nas tardes de Sábado e Domingo, na FCG].
O Teatro do Bairro foi escolhido na intenção de expandir fisicamente o festival para além do seu palco principal (anfiteatro ao ar livre) e de criar um espírito de clube, mais informal. Pesou também nesta escolha o facto de termos verificado que os concertos das 18h no Auditório-2 (capacidade 330 lugares) da Fundação Gulbenkian não atraíam a audiência desejada, situação que se alterou substancialmente para melhor. Na verdade o Auditório-2 não é uma sala de espetáculo, é mais uma sala de conferência e começámos a questioná-la. Há também que se compreender que os espaços inspiram os géneros da música, o dimensionamento adequado da música a um determinado espaço é uma regra cara entre nós.

Uma provocação: as propostas para o palco do Teatro do Bairro são as mais arriscadas do festival, os nomes mais experimentais e os novos talentos. Porquê? Não há espaço para a experimentação na Gulbenkian? Não se corre o risco de criar dois públicos distintos?
Não vejo mal em que se criem públicos distintos que, se calhar, até nem serão tão distintos. Quem vai ao Teatro do Bairro está no Bairro Alto ou, pelo menos, tem o hábito de o frequentar e pode até assistir pela 1ª vez a um concerto do Jazz em Agosto neste espaço e sentir-se interessado em vir ao palco principal. Será esta também uma questão de conquistar novos públicos. Deste modo não vejo que a questão se coloque em falta de espaço na Fundação Gulbenkian que sempre se caracterizou por uma extraordinária abertura à experimentação, o que sucede é os tempos estarem sempre em mutação e novas ideias estarem sempre a surgir.

Acho que não sabemos a resposta, mas arrisco perguntar: “O Mundo é Melhor Sem Capitalismo”? Neste vortex em que vivemos, na crista das multiplas crises actuais, a proposta do trio Das Kapital tem algum significado especial?
O trio pan-europeu Das Kapital exibe assertivamente a relação e os próprios músicos do trio terão pensado nisso com seriedade e sentido artístico: caricaturar, relembrar o capitalismo como ele se nos coloca na actualidade através do legado de um compositor marxista como Hans Eisler que foi perseguido pelas forças dominantes da sua época (1930’s). Não seremos nós quase todos, cidadãos que vivemos do trabalho honesto, também perseguidos agora pelas forças dominantes da nossa época que põem e dispõem a seu bel prazer ? Claro que o capitalismo tem muito que se lhe diga mas o problema reside sempre nos seus excessos que no fundo sempre se previram mas que ninguém quis saber.


DAS KAPITAL PLAYS HANNS EISLER: Quinta, 9 Ago 2012, 22:30 - Teatro do Bairro


Leia a primeira parte da entrevista...

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